Bolívia 2015: Dias 12 e 13
Atualizado: 30 de jul. de 2018
Mais que um Cume, Lições Aprendidas
"Na quarta pela manhã subimos ao refúgio alto. Assim que chegamos lá, o tempo virou, começou a ventar, e nevar, muito. Passamos o restante do dia no refúgio, descansando e se preparando para o ataque ao cume. Foi um dia muito frio e de muita expectativa, se haveriam boas condições climáticas para o ataque ao cume.



Jantamos às 17h e fomos dormir. Só consegui pegar no sono depois das 20h, após ir no banheiro. Nevava e ventava muito, porém, para nossa surpresa, a 1h da manhã, quando levantamos, océu estava limpo e o tempo havia melhorado.

Às 2h saímos. Inicialmente estava menos frio do que esperávamos, inclusive cheguei a pensar que havia exagerado nas roupas.

O fato de atacarmos à noite ajuda psicologicamente, pois não vemos o quanto longe está nosso objetivo. A primeira metade, até passarmos o crux, estava andando bem, apesar da dificuldade em regular a temperatura corporal. Após o crux ficamos expostos ao vento e aí começou o que acho que foi um dos maiores desafios a que já me submeti. Após mais ou menos uma hora comecei a não me sentir capaz de continuar, e fiquei esperando que alguém de nosso grupo desistisse, para que eu retornasse junto. (ps: uma espera ativa, continuei caminhando)
Quando vi a subida final, perto das 5h, disse ao Diego, chorando, que estava esgotado e não iria continuar. Ele me pediu que pelo menos passasse dos 6.000 msnm (estávamos a, aproximadamente, 5.950 msnm). Aceitei o desafio, apesar de não achar que poderia ser capaz. Quando saiu o sol, me animei um pouco mais, mas o sofrimento psicológico que havia me abatido era muito forte, e o trecho final fui praticamente puxado pelo Diego e pelo Sérgio (nosso guia). Chegar ao cume, passando pelos companheiros que já haviam estado lá e estavam retornando, foi uma sensação muito diferente do cume do Pequeño Alpamayo, uma sensação não de dever cumprido, mas de superação. Lá em cima, o vento forte contrastava com a paisagem, esta maravilhosa e imponente.



A descida foi uma provação. Não havendo outra opção, aguentei a dor nos pés o caminho inteiro. Já havia me entregado ao cansaço físico e mental, e apenas seguia a rota, pois não havia outra opção.

A recepção do Ercy foi sensacional, dando-nos a sensação de que de fato havíamos nos superado.

Mais do que o Tarija e o Pequeño Alpamayo, o Huayna Potosí ficará marcado, independente de levar adiante o montanhismo ou não, pois me submeteu a uma experiência de stress psicológico que esperava ter, mas que não sabia se poderia superar. Já embarcado para voltar, finalizo esta viagem com a sensação de 'dever' cumprido. Não por ter feito os três cumes, mas por ter me permitido experimentar, por ter convivido com novas pessoas só dando atenção aos seus pontos positivos, por ter feito o que sempre sonhei, mas jamais havia pensado que poderia fazer. Finalizo completamente realizado. Espero poder utilizar a experiência técnica para novas escaladas e para ter isso cada vez mais como rotina na minha vida. Mas mais do que isso, espero poder repassar aos familiares e amigos a experiência de vida. Hoje me sinto mais maduro, mais vivo, mais livre. Estou feliz!!! Obrigado a todos que apoiaram, incentivaram e acompanharam. Especialmente ao pai e a mãe, sem o apoio deles não teria sido igual, não estaria tão tranquilo e entregue à experiência. Não vejo a hora de chegar em Santa Rosa e encontrá-los. Essa viagem me fez relembrar e me certificar que sou privilegiado pela família que tenho. Amo muito todos eles e estou morrendo de saudades!" Santa Cruz de La Sierra, 17 de julho de 2015
