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Ainda sobre a chegada ao topo do Everest e o fim da expedição

por Jaqueline Crestani




Passados alguns dias da conquista do topo do Everest e antes de o Henrique voltar e começar a publicar o seu diário da expedição, decidi compartilhar com vocês um pouquinho mais sobre o ciclo de cume.

Como já contei no outro post, o montanhista e criador deste blog alcançou o “topo do mundo” no último dia 19. O feito aconteceu mais de um mês e meio (na verdade, 48 dias) depois que ele desembarcou no Nepal para começar a “aventura”.

Também contamos aqui tudo o que aconteceu desde então: a chegada em Katmandu, o trekking até o campo base, os ciclos de aclimatação (aqui e aqui), a espera para o ciclo do cume. Durante esse período, a equipe do Henrique, formada pelo guia Carlos Santalena, pelos brasileiros Ayesha Zangaro, Renato Zangaro, Joel Kriger e pelo australiano Paul Ling, passou por várias etapas até estar nas condições ideais para enfrentar o “ataque ao cume” do Everest.

Acompanhados por um grupo de sherpas – os nativos da região que ajudam os montanhistas nos Himalaias – eles começaram o último ciclo do desafio na madrugada de uma segunda-feira, dia 14 de maio, quando partiram do acampamento base para o campo II.




Como dá para ver nos vídeos, essa primeira parte do trajeto é muito desgastante. Depois da cascata de gelo do Khumbu, tem uma caminhada muuuuito longa. Por isso, o grupo descansou por um dia no campo II antes de continuar subindo até o campo III. No quarto dia, conforme o previsto, o Henrique e os companheiros partiram em direção ao campo IV, a 7.900 metros.

Foto tirada durante a subida até o campo II

Noite no acampamento II

Dois dias depois, subindo para o acampamento III

Tomando um mate e esperando o restante da equipe

Acampamento III - nas nuvens

Henrique foi o primeiro do grupo a chegar ao cume


De acordo com o cronograma do ciclo de cume, a escalada até o topo do Everest deveria começar ainda nessa mesma noite. Contudo, alguns dos integrantes da equipe não estavam apresentando um bom rendimento. Por isso, resolveram descansar mais um dia antes de subir até o topo. Como vinha tendo um ótimo desempenho e estava preparado, o Henrique optou por seguir o programa.

“Eu sabia que, se a Ayesha e o Renato decidissem esperar mais um dia, o Carlos não iria subir comigo. Me assustou pensar que não teria um guia me incentivando o tempo todo, como eu sempre tive nas outras montanhas. Mas, ao mesmo tempo, existia o risco de o tempo virar no dia seguinte”, contou.

Apesar de acreditar que a ausência do Carlos poderia ser negativa, como estava muito focado no seu objetivo, o Henrique saiu do campo IV por volta das 21h30 (horário do Nepal) de sexta-feira.


Com o Lama, o sherpa que acompanhou o Henrique até o cume

Na crista do monte!

Ele estava acompanhado por dois sherpas e por Paul. No entanto, o australiano acabou desistindo no meio da subida. O Henrique seguiu a escalada ao lado de Lama, um dos nativos do grupo. Segundo ele, o Paul resolveu voltar principalmente em função dos fortes ventos:

“Ele desistiu devido ao vento e após ver um sherpa de outro grupo voltando com congelamento nos dedos. Eu vi o cara voltando, mas não me dei conta do incidente. E eu sabia que o vento não era anormal, por experiência em outras montanhas. O Paul não tinha essa vivência, mas, infelizmente, não estávamos próximos para discutir o assunto”.

A desistência do companheiro de equipe intensificou o questionamento sobre seguir até o cume naquele dia. Contudo, não foi suficiente para que o Henrique pensasse em deixar a subida para o dia seguinte: “Enquanto eu subia, me questionava a respeito de continuar ou não sem o grupo. Por outro lado, eu sabia que estava preparado, mas não sabia se estava escalando em um bom ritmo”.

Emoção e alívio no Nepal e no Brasil


Ao fazer a primeira parada, no Balcony, ele conversou com Carlos pelo rádio e teve a confirmação de que o seu rendimento estava ótimo. A partir daí, ele nos contou que, ao ver o objetivo cada vez mais perto, a emoção começou a tomar conta.

“Quando eu já via o cume sul e o Everest mais próximo e já sabia que estava andando bem, me emocionava por estar conseguindo cumprir o que  havia me proposto. Mas, racionalmente tentava afastar esse pensamento para poder me concentrar. Só que depois do Hillary Step não teve mais jeito: me emocionei muito e a todo momento, a ponto de até diminuir o ritmo”, relatou.

Mesmo fazendo o trecho final um pouco mais lento, conforme o previsto, o Henrique atingiu o cume do Everest por volta das 8h30 da manhã no Nepal. Perguntei para ele o que ele sentiu naquele momento: “Descrever especificamente o que eu senti é muito difícil. Além da sensação de dever cumprido, senti um pouco de alívio e muita emoção”.



(Tudo bem, Henrique! A gente entende que deve ser realmente impossível descrever exatamente como é a sensação de chegar em um lugar onde pouquíssimos chegaram!)

Do Brasil, a família Scalco Franke, eu e muitos amigos acompanhávamos ansiosos a subida pelo SPOT. Aliás, vale abrir um parênteses para dizer que foi muito lindo ver todo mundo torcendo!

Voltando àquele dia, eu, os pais e os irmãos do Henrique passamos a tarde e a noite conversando em um grupo do WhatsApp. Praticamente a cada minuto, nos atualizávamos e comentávamos sobre a subida e o desempenho do Henrique. Quando vimos que ele estava realmente muito perto, também foi impossível para nós segurar a ansiedade e a emoção. Estávamos em contato com a Aretha, da Grade 6, e com o Elias Luiz, do Portal Extremos, para saber de qualquer novidade.

Por volta da 00h30 (horário de Brasília), o localizador mostrava que o Henrique estava no cume. Obviamente, no grupo começou a comemoração: o Henrique tinha conseguido chegar lá. Todos estávamos muito felizes, mas também apreensivos esperando pela confirmação.

Somente à 1h14, chegou uma mensagem da Aretha no meu whats: “confirmado”. Em um áudio de uma conversa por rádio com a Lyss (mãe da Ayesha e esposa do Renato, que estava no acampamento base), o Henrique gritava: “Estive no topo do mundo, Lyss!”. Muito emocionada, enviei imediatamente a mensagem de voz ao grupo da família. Posso imaginar o que eles sentiram naquele momento - mas realmente é difícil explicar.


É cume!!!

(Escutem e me digam se não é emocionante!)


A foto oficial do cume!

A descida e o fim do ciclo de cume


Após chegar, literalmente, nas alturas, o Henrique ainda teve que encarar o desafio da descida – que é tão perigosa quanto a subida. “Acho que a maior dificuldade dessa última etapa da expedição foi tentar desviar o foco de coisas que estavam 'atrapalhando' e manter a concentração. Com a sensação de ter o objetivo alcançado, a descida acabou sendo muito cansativa”, disse.

Apesar do cansaço, a volta do topo até o campo IV durou cerca de quatro horas. Depois de descansar, ele acompanhou a saída do restante do grupo para o ataque ao cume. Carlos, Ayesha, Renato e Paul chegaram ao cume do Everest na manhã de domingo, dia 20. O Joel acabou voltando por não se sentir preparado.


Grupo se preparando para sair no dia seguinte

Pronto para dormir com o oxigênio

Segundo o Henrique, todo o ciclo de cume, que durou um total de sete dias foi extremamente exaustivo. “Parecia que tudo estava mais difícil: o nosso organismo já estava desgastado com a altitude, estávamos carregando mais peso, os dias foram muito quentes e a ansiedade e a necessidade de oxigênio atrapalhavam o sono”, explicou.

No entanto, nada disso foi suficiente para impedir que ele tivesse um excelente desempenho: “Fiquei muito satisfeito, vi que com foco e persistência posso conquistar os objetivos aos quais me proponho”, comemorou ao chegar no acampamento base na segunda-feira seguinte, dia 21.


No campo II, o primeiro prato de comida depois do cume

Infelizmente, nesse mesmo dia, uma notícia muito triste fez todos nós conhecermos outra “faceta” do montanhismo. Ayesha, Carlos, Renato, Paul e os sherpas que estavam com eles já tinham descido até o campo II. Enquanto sinalizava a manobra de um helicóptero, o Sarki, sherpa líder da expedição, caiu em uma fenda. Ele foi tirado da greta com vida, mas acabou falecendo no hospital.

O Henrique e toda a equipe ficaram muito abalados com o acontecido. Ele já tinha falado sobre o Sarki com a gente e, quando nos contou sobre o incidente, fez questão de mencionar de novo a importância dele no sucesso da expedição. A verdade é que os sherpas que ajudam os alpinistas se arriscam diariamente para fazer o seu trabalho, mas acabam ficando nos “bastidores”. Durante a caminhada de volta, o Henrique prestou uma homenagem para o Sarki, mas vou deixar ele contar isso para vocês.

O retorno e os próximos passos


Depois de descansar um dia no campo base, o Henrique já começou o trekking de volta a Lukla, onde irá pegar o voo para Katmandu. Antes, porém, ele está passando uns dias em um templo budista em Tame, próximo a Namche Bazaar. O retorno para o Brasil está previsto para o próximo dia 4 de junho.

Perguntei para o Henrique quais são os planos agora e se ele pretende continuar se dedicando ao montanhismo: “Sem dúvida, quero continuar escalando! Acho interessante o projeto de fazer as 14 montanhas com mais de 8 mil metros [nas cordilheiras do Himalaia e do Karakoram]. Agora preciso 'retomar a vida' e entender como posso viabilizar isso”.

Bom, sendo assim, só nos resta torcer muito e esperar para acompanhar essas novas conquistas!


O merecido brinde com o companheiro de cume na chegada ao campo base, fechando a expedição!

No retorno ao campo base


Como já mencionamos das outras vezes, esta expedição foi possível com o apoio de alguns patrocinadores: Sicredi, CIEE-RS, Botolli, Arqsoft, MG Serigrafia e Cactus Ambiental.  Continuem acompanhando o projeto Versus Eu Mesmo no Facebook e no Instagram para saber como foram os detalhes dessa aventura!  * Enquanto o Henrique estiver na montanha – e com acesso restrito à internet –, quem vai manter o blog atualizado e dar notícias por aqui serei eu! Para quem não me conhece, sou amiga de longa data do “dono” do blog e estou participando do projeto como jornalista (e fã, é claro!). 

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